ATA DA DÉCIMA
QUARTA SESSÃO SOLENE DA QUINTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA
LEGISLATURA, EM 02. 06. 1987.
Aos dois dias do mês de junho do ano de mil novecentos e oitenta e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Quarta Sessão Solene da Quinta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura, destinada à entrega do título honorífico de Cidadão Emérito ao Prof. Clóvis Duarte Nogueira da Silva. Às dezesseis horas e vinte e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuzeram a MESA: Ver.ª Gladis Mantelli, 1ª Secretária da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos da presente Sessão; Sr. Leonel Ricardo Tonniges, Assessor superior do Deputado José Ivo Sartori, representando, neste ato, o Secretário do Trabalho e Ação Social; Dep. José Antônio Daudt, representando, neste ato, o Dep. Algir Lorenzon, Presidente da Assembléia Legislativa; Jorn. Antônio Firmo de Oliveira Gonzales, representando, neste ato, o Jorn. Alberto André Forster, Presidente da ARI; Procurador Álvaro Azevedo Gomes, representando, neste ato, o Dr. José Sanfelice Netto, Procurador Geral da Justiça; Cel Luiz Souza de Oliveira, representando, neste ato, o Cel. PM Jerônimo Braga, Comandante Geral da Brigada Militar; Prof. Clóvis Duarte Nogueira da Silva, Homenageado; Ver. Frederico Barbosa, 2º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre. A seguir a Sra. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Isaac Ainhorn, como autor da proposição, e em nome das Bancadas do PDT, PDS e PL, saudou o homenageado, dizendo quão gratificante lhe era participar da presente Sessão. Teceu comentários acerca do trabalho realizado pelos Comunicadores, fazendo um breve relato da vida do Prof. Clóvis Duarte, sempre marcada pela sua personalidade forte e comunicativa. O Ver. Flávio Coulon, em nome da Bancada do PMDB, falou sobre a obra do homenageado, tanto em seu trabalho de professor quanto de comunicador. Salientou o otimismo que S. Sa. transmite à todos mesmo durante o período difícil que atravessa o País. E o Ver. Aranha Filho, em nome da Bancada do PFL congratulou-se com o Ver. Isaac Ainhorn, pela iniciativa da presente Sessão, dizendo da sua alegria em participar da mesma, haja vista, os laços de amizade que o une ao Prof. Clóvis Duarte. Comentou traços da personalidade de S. Sa. dizendo jamais ter visto qualquer gesto mais hostil da parte deste, elogiando sempre a conduta e o otimismo de S. Sa. A seguir a Sra. Presidente convidou a Profª. Marza Duarte da Silva, esposa do homenageado, a proceder a entrega título honorífico de Cidadão Emérito ao Prof. Clóvis Nogueira Duarte da Silva, concedido através do Projeto de Resolução nº 30/86 (proc. nº 2343/86.) Em continuidade, a Sra. Presidente concedeu a palavra ao homenageado, que agradeceu o título recebido. Após a Sra. Presidente entregou ao Prof. Clóvis Duarte Nogueira da Silva correspondência referente à presente Sessão. Nada mais havendo a tratar, a Sra. Presidente fez pronunciamento alusivo ao evento, convidou os presentes a passarem à Sala da Presidência, convocou os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental, e levantou os trabalhos às dezessete horas e vinte e cinco minutos. Os trabalhos foram presididos pela Verª. Gladis Mantelli e secretariados pelo Ver. Frederico Barbosa. Do que eu, Frederico Barbosa, 2º Secretário, determinei fosse a palavra a presente Ata que, após lida e aprovada será assinada pelos Senhores Presidentes e 1ª Secretária.
A SRA. PRESIDENTE (Gladis
Mantelli):
Concedemos a palavra ao Ver. Isaac Ainhorn, que falará pelas Bancadas do PDT, PDS
e PL.
O SR. ISAAC AINHORN: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs. Convidados, comunicar é, antes de tudo, transmitir
conhecimentos.
Os fatos, os acontecimentos se desenrolam em ondas contínuas,
constantes, perpétuas. Divulgá-los, transmiti-los é missão árdua, difícil. O
emissor, o comunicador, aquele que informa deve relatá-los dentro de uma
objetividade e o mais exato possível da realidade. Este dever maior do
comunicólogo, do jornalista é tarefa imensa, infinita e praticamente
irrealizável. Então, de outra parte, surgem os que exigem do jornalista que se
obrigue a conhecer a realidade dos fatos, a saber de todos os níveis da
realidade, numa ação impossível ao humano. Não sendo possível tal fato, estes
passam, então, a pichar o comunicador de um ser que deforma a realidade
voluntariamente ou sem intenção.
Não raras vezes, o trabalho jornalístico é suspeito da deformação de
fatos, de acomodação, de covardia e, não raro, de desonestidade. Disto resulta
um fato evidente: o comunicólogo está lançado numa atividade difícil,
martirizante. Por isso, sempre é pequena, modesta e muito aquém dos
merecimentos qualquer homenagem que se preste aos homens que comunicam.
Hoje, este Plenário se enfeita para esta homenagem revestida de uma
gratidão do poder político ao que se convencionou chamar o Quarto Poder. E o
fizemos com a certeza da justiça do preito que prestamos a Clóvis Nogueira
Duarte da Silva, lídimo representante desta classe de homens voltados ao mundo
da transmissão de fatos.
Nasceu Clóvis Duarte em plena efervescência mundial, no meio da Segunda
Grande Guerra, no ano de 1942. Iniciou seus estudos superiores no Curso da
História Natural, voltado, sem dúvida, à comunicação através da cátedra. No
Magistério começou cedo e uniu esta atividade ao Social: iniciou lecionando no
Centro Acadêmico de sua faculdade gratuitamente. E, neste diapasão, parece ter
traçado seus rumos; quando na Revolução de março de 64 cerraram-se as portas
daquele Centro, Clóvis Duarte começou a concretizar outro sonho, partindo do
social. Vendo que dezenas de alunos ficaram sem ensino, em face da falta de
recursos financeiros, com mais quatro colegas Clóvis Duarte fundou o Instituto
Pré-Vestibular, o tão conhecido IPV. Era criado para abrigar os que, à míngua
de dinheiro, não podiam pagar. E durante quinze anos ministrou-se no IPV o
saber para o enfrentamento ao vestíbulo de nossas faculdades, mas,
principalmente, escreveu-se história melhor: dava-se a lição de humanidade
ímpar ao atender-se estudantes carentes. Traçava-se, sem dúvida, um marco no
ensino pré-universitário.
Mas, picado pela mosca da comunicação, Clóvis não pôde parar. Quem não
dele se recorda, no rádio e na tevê, na cobertura dos vestibulares, dando
“dicas” ou analisando questões mais complexas. Provando da cachaça da informação,
Clóvis dela não mais largou. Em 1974, faz seu debut na TV Difusora, com o seu
“Portovisão”. O nome de sua criação diz tudo: buscava-se dar, através da
informação de fatos e feitos, uma visão de nosso Portinho. Porto Alegre
passava, na mágica apresentação de Clóvis Duarte, a mostrar todos os seus
acontecimentos, todos os seus fatos marcantes. Portovisão marcou época no mundo
do audiovisual de nossa Cidade.
Ninguém desconhece que o jornalista do audiovisual apresenta
características particulares. Raramente ele está em contato com o
acontecimento. Às vezes, e geralmente assim ocorre, ele deve estar amparado por
equipamentos modernos e fartura de material e uma equipe numerosa.
Há, pois, trabalho coletivo, mas apresentação individual, isto é, ele,
o jornalista do audiovisual é um “apresentador.” Ou, no dizer do escritor Marc
Peillet, ele é, “ao mesmo tempo, popular e vulnerável. Carrega a
responsabilidade pública e visível daquilo que é explicitado, abertamente ou
não. Ele está na linha de frente. Esta função, tão visível, mascara uma outra -
não forçosamente exercida pelo apresentador, mas forçosamente assumida em algum
lugar pela equipe - e que é uma função política. Em democracia, o critério
político sobressai sobre outros critérios de julgamento: critérios culturais,
educativos, conatos, de linguagem, etc. Isto coloca o problema de saber a que
condições, como e em função de quais garantias gerais essa pedra de toque
política pode ser utilizada sem cair num excesso de conformismo, partidarismo,
de obsequioso e... mais longe: de ordem moral, de obscurantismo e de
totalitarismo”.
Clóvis Duarte, o nosso “Cidadão Emérito”, soube resolver, com maestria,
inteligência e soberana liberdade, esta questão. Ele mesmo, apresentador de
raros dotes, é o criador de seus programas de televisão. Então, ele próprio
traça a função política de seu programa. Ele cria, ele apresenta. Para o mundo
estudantil, criou “Opinião Jovem” onde, rapidamente, conquistou a juventude.
Após, outro bom e notável programa: “Comunicação”. Hoje, ele tem uma hora de
duração todos os domingos e por ele são projetados, em nível nacional, as
pessoas e coisas de nosso Estado.
Apresentador emérito, abriu espaço para todos os enfrentamentos
eruditos e polêmicas livres, lançando nomes que atualmente são astros da
comunicação: Renato Pereira, Tatata Pimentel e José Antonio Daut, entre tantos.
E, marcante, sem dúvida, foi seu trabalho de retirar do anonimato, devolvendo
ao convívio de seus receptores, o nosso grande e inesquecível Geraldo José de
Almeida.
Sabemos, Clóvis Duarte, Cidadão Emérito desta Porto Alegre, que durante
milênios a arte de escrever e ler foi privilégio das classes dominantes ou de
setores elitistas nas sociedades de maior progresso. O transmitir de
acontecimentos - a Comunicação - passou a ser aquilo que as classes dominantes
consideravam essencial.
Contudo, e é ainda o escritor francês PAILLET que nos ajuda, “existe,
na verdade, uma outra tradição de testemunhos, mais popular em todos os
sentidos do termo: a do debate oral, da conversa, da palavra, do contador do
comentarista das feiras, do orador político, do mensageiro, do falante. Ela
está muito mais próxima da realidade social, econômica e mesmo técnica. É mais
fiel e, mesmo que não nos tenhamos dados conta até há pouco tempo, muito mais
rica que a tradição escrita.” Realizou um grande papel, justamente onde houve
propositado desinteresse das classes dirigentes e teve um papel primordial na
informação dos humildes. Esta, sem dúvida, o grande favor que a Cidade de Porto
Alegre, em especial, deve a Clóvis Duarte. Ele soube comunicar, no papel de
apresentador e criador, a verdade sem máscara, o acontecimento sem deformação,
todos os atos e fatos de nossa Cidade. Ainda hoje o faz com maestria invejável.
Portanto, o título que, agora, a Cidade lhe confere é muito pequeno
diante do grande trabalho que realiza. Contudo, “Cidadão Emérito de Porto
Alegre”, leve, daqui, uma certeza: a Cidade, através de seus representantes,
quer lhe agradecer, nesta homenagem, o tudo quanto sua comunicação exemplar
realizou de bem, de social e humano.
E antes de encerrarmos estas considerações, não poderíamos encerrar sem
fazer algumas referências ao Clóvis Duarte que transcende ao professor, que
transcende ao comunicador e que tive a oportunidade, nestas páginas, de traçar
alguns elementos para justificar fundamentalmente o porquê a Cidade de Porto
Alegre conferiu a Clóvis Duarte o título de Cidadão Emérito na nossa Cidade de
Porto Alegre. Mas, além disso, Clóvis tem outras qualidades que transcendem,
que vão além destas contribuições que deu a nossa comunidade, a nossa Cidade, e
que o fez merecedor do Título de Cidadão Emérito de nossa Cidade é a sua
condição de amigo leal, de amigo dos seus amigos, de pessoas cara e terna de
todas as pessoas que têm a oportunidade de conviver com Clóvis Duarte. Por esta
razão, no dia em que a Cidade de Porto Alegre, em Sessão Solene, concede a
Clóvis Duarte o título de Cidadão Emérito, através de uma decisão unânime, os
seus amigos se orgulham desse título concedido pela unanimidade desta Casa a
Clóvis Duarte.
E, evidentemente, além de ser um motivo de orgulho para todos os seus
amigos e, tenho certeza, também, para uma figura que hoje não vejo aqui - ele
deve estar no leito - que é um grande e querido amigo do Clóvis, e que o acompanha
muitas vezes nas suas viagens em busca de elementos, é o nosso Hélio Wolfrid, o
qual eu não poderia deixar de registrar.
Mas, encerrando, Sra. Presidente e Srs. Vereadores, registro mais, além
do orgulho dos seus amigos pelo merecido título que os trinta e três Vereadores
da Cidade de Porto Alegre concederam ao Clóvis, tenho certeza também que
orgulho igual é da sua esposa, sua companheira de todos os momentos, das horas
boas e difíceis, que aqui se encontra presente conosco, e de uma de suas filhas,
pois a outra está doente.
Portanto, eram estas as considerações que gostaria de registrar, na
oportunidade em que a Cidade de Porto Alegre outorga, em Sessão Solene, título
de Cidadão Emérito de Porto Alegre ao Clóvis Duarte. É a homenagem que poderíamos
emprestar a uma pessoa tão cara e que tantas contribuições deixou à nossa
Cidade até agora. E, tenho certeza, ainda, que o Clóvis continuará perseguindo
esta sua trajetória, dando contribuições maiores à nossa Cidade e ao nosso
País, e que, evidentemente, será sempre motivo de orgulho para os seus amigos,
para sua família, e para a Cidade de Porto Alegre, que hoje lhe confere o
título de Cidadão Emérito. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Flávio Coulon pelo PMDB.
O SR. FLÁVIO COULON: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores, Srs. Convidados, prezado companheiro e amigo Clóvis Duarte, como
professor, já ensinamos, várias vezes, que não devemos iniciar os nossos
discursos com explicações, mas, em homenagem ao ilustre Professor Clóvis Duarte
e aos seus convidados, eu devo dizer que, quem iria saudá-los, em nome do PMDB,
seria o Ver. Clóvis Brum, que preparou um discurso à altura da sua
personalidade e à altura dos seus homenageados. Infelizmente, esta epidemia que
o Ver. Isaac Ainhorn mais ou menos detalhou aqui também atingiu o Ver. Clóvis
Brum, razão pela qual eu fui convocado esta tarde para trazer, em nome do PMDB,
a sua palavra. E aceitei com muito gosto esta incumbência, porque não seria
imaginável que o PMDB, numa hora em que um dos seus homens mais gabaritados, um
dos seus homens a quem o Partido deve muitos e muitos favores não se fizesse
presente nesta tribuna para levar a sua palavra de homenagem, a sua palavra de
carimbo e a sua palavra de admiração.
Venho aqui dizer do orgulho do Partido do Movimento Democrático
Brasileiro em, nesta oportunidade, estar homenageando o professor e comunicador
Clóvis Duarte e venho saudar também como professor e como professor pra lhe
agradecer esse trabalho como comunicador e, em sendo comunicador não deixaste
nunca de ser professor porque, através de tua comunicação e desse teu sorriso
que parece eterno, e espero que seja eterno, que é tua marca registrada, tens
levado a todas as gerações, a todas as pessoas de qualquer idade, aquele rasgo
de otimismo que este povo desta Cidade e deste Estado tanto precisa.
Nestes tempos de grande tristezas e aflições que estamos passando, fica
no vídeo e na tua figura, no teu sorriso, a marca de que é preciso sorrir, é
preciso acreditar e esperar que o futuro seja melhor do que o presente. A lição
que tens dado, por onde passas é esta, em todos os fins de semana em que te
vemos desfilar com teu sorriso e tua simpatia no Parcão e vejo aqui a homenagem
do Parcão que está maciçamente presente trazendo-te a homenagem de todos os
amigos e os agradecimentos por esta lição de otimismo que tens nos dado sempre.
Lembro-me e, ontem, li num jornal, os versos de Fernando Pessoa: “Tudo
vale a pena se a alma não é pequena.” Este Título está em muito boas mãos
porque tua vida, teu trabalho, teus ensinamentos valeram a pena porque tua alma
é muito grande. Valeu a pena porque tua alma não é pequena. Muito obrigado.
(Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao
Ver. Aranha Filho, que fala em nome da Bancada do PFL.
O SR. ARANHA FILHO: Sra. Presidente, Srs.
Vereadores e Srs. Convidados, o Ver. Isaac Ainhorn autor da presente proposição
foi muito feliz em sua locução citando e mostrando aos presentes nesta Sessão o
que fez o Clóvis, o que o seu coração permite fazer, traçou, portanto, o
“curriculum vitae” do Clóvis Duarte, o Professor de História Natural, o
comunicador e o amigo. O colega Ver. Flávio Coulon traçou tópicos da vida de
Clóvis Duarte como mestre, como professor, sem deixar de, nesta cátedra, ser um
comunicólogo.
Me permita, Clóvis, contar, a esta Câmara, neste momento, algumas
coisas afora a cátedra e a comunicação, que fazemos mais à vontade e no lazer.
Quero-me referir aos já citados fins-de-semana no Parcão, mas,
principalmente, quero-me referir às noites de terças-feiras. E, aqui, fico a
imaginar as esposas dos nossos 571 companheiros registrados que, numa caravana
gastronômica, se encontraram todas as terças-feiras. É lógico que nem todos
comparecem às sessões de terças, mas é certo que 2% ou 3% lá comparecem e,
nossas reuniões, com 20-30 pessoas, sempre são alegres, onde se confraternizam
brincando do início ao fim, quase que dando um “chega-pra-lá” naquelas coisas
ruins que passamos no dia-a-dia. Mas lá, nessas sessões, desde o seu início
encontramos uma pessoa com aquele sorriso aberto, com aquele sorriso franco
que, mesmo quando sério, nós o enxergamos sorrindo. É o Clóvis Duarte, nosso
homenageado. E quando nós imaginamos também que nestas terças-feiras e lá se
vão 22 anos, o Clóvis de 17 anos pra cá e eu de 10 anos para cá e tantos aqui
presentes comungando conosco naquelas terças-feiras, eu fiquei a imaginar, meu
caro Clóvis, que poderia até lhe pregar uma peça na tarde de hoje.
Deveria eu quebrar o protocolo e pedir à Presidência da Casa para que
eu fosse substituído em meio ao meu discurso para que nós fôssemos deleitados e
você fosse melhor homenageado pelo orador da nossa caravana, nosso permanente
orador da nossa caravana, o comunicólogo, o empresário Helinho Wolfrid.
Mas, parece que até o presente momento o Hélio não apareceu. Pedi,
inclusive, ao Ver. Isaac Ainhorn uma alteração na prioridade de discursos, pois
ele seria o último e eu pedi que ele deixasse para mim na tentativa de quebrar
o protocolo e fazer com que o Hélio Wolfrid te saudasse.
Mas meu caro Clóvis, lembro aqui das amizades que tanto o Ver. Isaac
Ainhorn e o Ver. Flávio Coulon citaram. Eu particularmente trago como herança a
amizade, fato que meu pai sempre me dizia que é exatamente na amizade que
reside a vida e é sem dúvida alguma a nossa maior fortuna e é justamente,
Clóvis, com este sentido que vejo o homenageado sendo agraciado com este título
pela colenda Câmara Municipal de Porto Alegre, a Casa do Povo, os
representantes de Porto Alegre, homenageando o comunicólogo, o professor e a
criatura rica em amizades. Nunca vi o homenageado dizer alguma palavra ríspida
a quem quer que seja, o seu sorriso nunca deixou de estar estampado em seu
rosto.
Clóvis, esta Casa se engalana com o título que tu recebes hoje,
parabéns. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Convidamos a todos que de pé
assistam à entrega do Título ao Prof. Clóvis Nogueira Duarte. E convidamos a
sua digníssima senhora Marza Ruas Duarte da Silva para fazer a entrega do
mesmo.
(Lê o Diploma.)
(A Sra. Professora Marza Ruas Duarte da Silva procede à entrega do Diploma.) (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE: Concedemos a palavra, neste
momento, ao nosso caro homenageado, Professor e Comunicador Clóvis Nogueira
Duarte da Silva.
O SR. CLÓVIS NOGUEIRA DUARTE
DA SILVA:
Sra. Presidente, Srs. Vereadores e Srs. Convidados, vocês que estão aqui me
conhecem, sabem que eu sou um homem de falar. Eu fiquei muito tempo pensando:
vou escrever um discurso. Mas eu não consigo escrever. Então eu vou falar
realmente aquilo que eu tenho feito durante toda a minha vida, que é pensar e
falar. E tenho também, durante toda esta atividade, como comunicador, porque o
professor é um comunicador, durante muitos anos e principalmente todos aqueles
anos que se seguiram a 1964, onde a partir de uma pequena sala de aula, na
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, na época, nós tínhamos criado um
Curso cuja meta maior era auxiliar aqueles que não tinham possibilidades de
chegar à Universidade. Tanto o nosso idealismo, que vínhamos lecionando desde
1963, gratuitamente.
Em 1964 as portas do Centro Acadêmico Franklin D. Roosevelt foram
fechadas, mas as nossas cabeças, não. As nossas idéias, não. E nós seguimos com
aquele plano, não mais dentro do Franklin, mas fora dele, criando um curso ali
defronte à Santa Casa, o IPV.
Curiosamente, na mesma rua onde eu nasci, porque eu nasci ali no
Hospital São Francisco, um pouquinho para o lado, lá no dia 6 de fevereiro. Eu
me lembro que meu pai me contava sempre que eu tinha nascido numa sexta-feira
de carnaval e que dois dias depois ele tinha me levado na janela do Hospital e
tinha me mostrado a festa do carnaval. Era um domingo. Há três semanas atrás no
Festival de Gramado, um filme do Sganzela, “Nem Tudo é Verdade,” mostrou
imagens de Orson Welleno Brasil em 1942. Qual não é a minha surpresa quando
aparecem imagens de 8 de fevereiro de 1942! Era o dia de domingo de carnaval
que meu pai uma vez me contou e eu guardei sempre. Eu fui lá e olhei e talvez
ali já tivesse incorporado aquele aspecto positivo que eu tenho, de alegria e
de deixar as coisas ruins para trás e tocando sempre as coisas boas, porque eu
acho que elas sempre estão ao nosso alcance.
Mas a partir da criação do IPV dizia, e coincidentemente, naquele mesmo
lugar, aquelas idéias que existiam na nossa cabeça foram crescendo, cada vez
nós podíamos chegar a mais pessoas, a mais jovens, e aquela idéia que
predominava no IPV, jamais deixou de existir, mesmo quando ele chegou a ser um
curso, de ter, num ano, como foi 1974 e 1975, mais de 15 mil alunos, dos quais
grande parte deles foram bolsistas. Se é talvez, uma das coisas que mais me
orgulha, hoje, é encontrar por esse Rio Grande do Sul afora alunos do IPV, que
foram mais de 100 mil alunos que passaram lá pelas classes do IPV, primeiro
defronte à Santa Casa, aliás, primeiro dentro da Faculdade, depois defronte à
Santa Casa, e depois na Av. Salgado Filho, até 1979, quando a comunicação mais
ampla me levou. Eu não tinha como conciliar as duas coisas, resolvi optar. Mas
foram mais de 100 mil alunos.
Mas, dizia, que a coisa que mais me orgulha é encontrar esse pessoal,
hoje, todos eles, obviamente, advogados, médicos, enfim, de todas as áreas que
nós podemos encontrar e muitos deles foram bolsistas lá. Muitos deles que dizem
que se não fosse aquela oportunidade dada, e obviamente, não foi só por mim,
mas pelos meus sócios na época: Joaquim Felizardo, Enéas de Souza, Amilcar
Loureiro, se não tivessem tido aquela oportunidade de chegar e que lhes fossem
permitido estudar lá, sem pagar nada. Diria mais, a situação difícil que
passaram aquela época, e que agora, lamentavelmente, se repete. Às vezes não
bastava dar a bolsa, porque não tinham nem como chegar ao curso, tínhamos de
financiar alguma coisa em termos de alimentação e condução.
Mas, era nossa filosofia, e foi uma filosofia que existia no IPV
enquanto eu estive lá e disso me orgulho. E não foi por acaso que muitos e
muitos professores, porque se um era Diretor, nós todos éramos professores, nunca
abri mão disso. Aliás, a razão porque deixei o IPV, foi no dia que não podia
mais estar na sala de aula, tive que optar, ou ficava na sala de aula ou na
outra atividade junto à televisão.
Tínhamos sempre esta filosofia do social em primeiro lugar, embora
fosse um curso cobrado, mas cobrávamos dos que podiam. Dizia, então, que
aqueles profissionais que lá estiveram hoje estão destacados nas mais
diferentes atividades, inclusive, na própria política. O Enéas, hoje presidente
do BRDE, a Prof.ª Gladis Mantelli, nesta Casa, e tantos outros como Fogaça,
Carrion... O Osternann, que foram professores, que continuam na filosofia que
norteou a nossa casa: ter, em primeiro lugar, o aspecto social e a preocupação
com a nossa terra e nossa cidade.
Durante os quinze anos em que estive no IPV fui sondado para receber
homenagens e medalhas. Sempre procurei me esquivar. Tanto é que não tenho
nenhuma. Mas, quando o ver. Isaac Ainhorn me perguntou como receberia este
título - muitas pessoas me perguntam, “então, não nasceste em Porto Alegre?” A
diferença é que quem nasce aqui recebe o título de Cidadão Emérito e quem aqui
não nasce, recebe o de Cidadão Porto-alegrense - aceitei-o. Aceitei porque
creio que a cidade é como pai e mãe: não se escolhe, nasce-se de um pai e mãe.
A cidade também não escolhe quem ali nasce. No momento em que se nasce em uma
cidade e nela começamos a conviver, passamos a gostar dela. È assim também os
nossos pais, filhos; gostamos do convívio. Assim é desta Cidade, que realmente
gosto e pela qual me orgulho. Gosto e a conheço bastante. Todas as propostas
que me tem chegado deixar Porto Alegre, tenho-as recusado. Agora, praticamente,
isso será viável.
Talvez uma outra crítica que pudesse fazer, após todos os anos que
seguiram 1964, nesse prejuízo que os sucessivos governos criaram para os
municípios, entre tantos prejuízos, talvez, esteja um, de realmente, não
cultivar o amor ao município.
E, nós que temos viajado por esse mundo afora sabemos como fora, em
outros países, ditos do Primeiro Mundo ou ditos mais civilizados, o que eu não
concordo muito com esse termo, eles têm amor por sua cidade. A cidade é a coisa
mais importante. Quem tem viajado sabe disso, se nós vamos a França, Estados
Unidos, Itália, Alemanha, ou mesmo Países Socialistas, na Rússia, Tchecoslovaquia,
Hungria, é a cidade a coisa mais importante para as pessoas que habitam aqueles
países. Jamais eles perdem a nacionalidade, jamais eles deixam de amar o seu
país mas, antes de mais nada, eles amam a sua cidade, amam o seu bairro, amam a
sua rua e parece que isso foi uma coisa que foi abandonada neste País. Nessa
ânsia de centralizar, os municípios foram abandonados e o amor pela cidade, eu
que me criei ali no Menino Deus, saí aqui do Hospital São Francisco, fui lá
para a Rua Dona Augusta, de pois fui para a Barão do Cerro Largo e depois na
Padre Cacique, atravessa a rua e tomava banho no Guaíba, que era uma coisa para
nos orgulharmos. O Guaíba. Qual é a cidade do mundo que tem um Rio como o nosso
que não se orgulharia desse rio?
Mas as dificuldades que os governos municipais tiveram que enfrentar
nos últimos anos, deixando as pessoas daquela cidade gostando muito pouco
delas, as pessoas não se dão conta porque que não gostam da cidade, porque,
realmente, os governos estão com dificuldades, o Prefeito, os Vereadores,
enfim, de fazer coisas que querem fazer por esta cidade. A partir daí as
pessoas que habitam nesta Cidade, aqueles que nasceram nesta Cidade ou que
vieram morar nesta Cidade, começam a achar que a Cidade não está boa, que a
Cidade está ruim.
De modo que, se eu pudesse deixar um mensagem, nesse dia que eu recebo
este Título com o máximo orgulho de todos os meus amigos que estão aqui nesta
Cidade e principalmente destes que estão aqui presentes, é que, este espírito
que é positivo e que eu morro de inveja - vou usar uma linguagem que a Tânia
Carvalho gosta muito de usar - quando vou nos outros Países e que vejo aquelas
pessoas das cidadezinhas grandes ou pequenas de Nova Iorque, ou uma cidadezinha
do interior lá da Suíça, o amor por aquela cidade.
Então, o que eu gostaria de deixar aqui era isto: que agora - tomara
seja verdade - se aproxima o momento em que esse abandono dos municípios por
parte do Governo Central vai ser parcialmente restaurado, que tenhamos também o
orgulho de dizer que nós gostamos de nossa cidade, que amamos Porto Alegre,
tanto quanto aquele habitante de Nova Iorque usa aquele símbolo do coração “I
Love New York”. E que muitos daqui vão lá e colocam em seus carros e circulam
aqui. Eu vejo muitos e tenho inveja disto, porque eu amo a minha cidade. Tenho
feito coisas sempre pensando em poder contribuir um pouquinho mais para com a
Cidade.
Então, deixo aqui, no momento em que recebo o Título desta Cidade, aos
Vereadores desta Cidade que representam aqueles que nasceram aqui e que vivem
aqui, que nós tenhamos agora dentro de tudo o que espero que vá propiciar para
o melhor atendimento, o melhor serviço a quem mora em Porto Alegre. Então, é
uma campanha, porque as campanhas não funcionam quando as coisas não existem, elas
são falsas. É no dia-a-dia, naquele nosso esquema, naquele serviço e então aí
nós vamos gostar da nossa Cidade e ter orgulho de dizer: eu moro em Porto
Alegre ou eu nasci em Porto Alegre, como eu tenho orgulho de dizer agora e de
receber este título. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. PRESIDENTE: Gostaria de comunicar a
chegada de vários telegramas de cumprimentos ao Clóvis pelo Título que hoje ele
recebe e também de escusas das ausências. O primeiro deles é do Dr. Pedro
Simon, Governador do Estado do Estado do Rio Grande do Sul; do Dr. Alceu
Collares, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Sr. Antônio Simon Neto e família;
Dr. Jaime Prawer; Marcos Dvoskin, Dir. Superintendente da Rede Brasil Sul; da
Marca Propaganda; Sr. Luiz Carlos Gota e de Werner Kunzler. Nós passamos os
telegramas às mãos do nosso homenageado.
Esta Casa sempre que faz um entrega de Título se preocupa, ou procura
descobrir que ela consegue fazer acertos, apesar de tantos erros que nós
cometemos e sabemos, porque a população nos cobra.
É estranho que em determinados momentos, em função do tipo de vida que
se leva, das circunstâncias em que nós nos movimentamos, dos problemas que o
País enfrenta, das circunstâncias de uma Constituinte em vigor, esta dinâmica
toda engolfa a Câmara Municipal de Porto Alegre. Engolfa de tal maneira que
nós, muitas vezes, nos esquecemos das pessoas que nela habitam. E, num
determinado momento, um de nós se lembra de que existe alguém, nesta Cidade, e
que a Cidade também deve homenageá-lo. E graças a Deus que alguns de nós se
lembra e que é o caso do nosso Ver. Isaac Ainhorn quando lembrou da figura de
Clóvis Duarte para ser homenageado por esta Casa.
Isso faz com que, em determinados momentos, nós paremos para pensar no
que estamos fazendo. E o Helinho, sentado lá atrás, e que foi citado em todos
os discursos, quem sabe talvez devesse ser ele a fazer esta final e não eu, já
que disseram que é o orador e o comunicador de um grupo. Eu já não tenho este
dom de comunicação, mas gostaria, até porque conheço o Clóvis há 18 anos, -
isso não significa que nós estejamos velhos, de maneira nenhuma, estamos,
quando muito, um pouco gastos, - mas o que é importante é que pessoas que fazem
algo por esta Cidade, realmente sejam lembrados pela Casa do Povo.
Se esta Casa se diz a Casa do Povo, e os seus Vereadores são os seus
representantes, ou procuram ser, que, realmente, em determinados momentos
parem, pensem e descubram que existem pessoas nesta Cidade que merecem a
homenagem desta Casa. Não uma homenagem no sentido de um cartaz ou de um
diplominha, mas uma homenagem real, no sentido de reconhecimento do trabalho
que essas pessoas prestam à comunidade porto-alegrense.
O Clóvis, no seu discurso - e ele me permite chamá-lo assim, e não
formalizando o protocolo - fala do amor à Cidade. Eu acho que, realmente, Porto
Alegre precisa ser amada, e ser amada por cada um de nós, não só por aqueles
que a representam como um Poder, mas por cada um de nós, individualmente. E se
não fosse por tudo que o Clóvis fez como professor, como comunicador, como
alguém que traz algo de positivo e produtivo a esta Cidade, ele mereceria o
título pelo fato de que ele ama esta Cidade.
Eu, neste momento, encerro esta Sessão, convidando a todos os presentes
para passarem à Sala da Presidência, para comemorarmos juntos, com vinho e
queijos, como oferta do nosso homenageado.
(Levanta-se se a Sessão às 17h25min.)
* * * * *